Literatura russa...
    (Breve reflexão)

    Gilberto B. da Cunha
     Psicólogo CRP 07/21456 

    Acusam (gentilmente) a literatura russa de “cinzenta”. Isso se deve a maneira com que os escritores russos escrevem. A matéria prima vem da paisagem úmida e gelada de suas terras. A vida é mais custosa, mais intensa, mais fechada, as cores são sombrias. A literatura e os escritos vêm daí, dessa paisagem inóspita. Isso é ruim? Não, absolutamente não! Pelo contrário, os escritores russos cativam o mundo pelo modo como enfrentam a natureza e, por conseguinte, a vida.

    Tenho me dedicado a leitura de algumas obras russas e tenho o sentimento de que são textos tensos, profundos e que desnudam a alma humana. E se no lado do sol existe “o corpo desnudo”, na parte gelada do mundo existe “a alma despojada”, um jeito de ser “para dentro”, uma parte que poucos têm o privilégio de encontrar. Há vários escritores que visitam as obras russas e que encontram nela razões para sustentar as suas teorias sobre a essência do homem. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, dizem, buscou no livro “Memórias do subsolo”, de Fiódor Dostoeéviski, a prefiguração das ideias acerca do inconsciente.

    Além disso, para os que acusam os escritores russos de “frios” e que lhes faltam afeto, devo dizer que vejo o contrário disso, há muito afeto esparramado na literatura russa. Nem os ventos gelados da Sibéria é capaz de esconder a alegria e a esperança que existe no coração dos russos. Não se confunda o estilo político existente na Rússia da veia poética que existe nos escritos dos russos. Como dizem os meus amigos, “uma coisa é uma coisa, a outra coisa é outra coisa”.

    Mas, os escritores russos deixam claras as fontes que lhes inspiram a escrever, isso é verdade. Isso incluí, obviamente, a política e todas as consequências que dela descendem. A paixão profunda, o amor ardente e o sofrimento mortal também são temas que estão nos livros dos habitantes do mundo cinza. E, para amenizar, encontramos em Liev Tolstói, em seu livro “Contos da Nova Cartilha”, uma declaração amorosa às crianças russas, elas que precisam de porções afetivas nas suas primeiras leituras.

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