A PAIXÃO PELA BOLA.

A paixão pela bola.

Gilberto B. da Cunha 

Psicologo CRP 07/ 21456 


Alguns amigos não acreditam que fui um menino mirradinho, pequeno e apaixonado por futebol. Era um centromédio que um dia foi deslocado para a lateral esquerda e que também, quando preciso, corria pelas pontas do campo. A bola era uma paixão e com ela travei os meus mais longos e íntimos diálogos de domínio. Ela tinha de obedecer aos meus comandos e isso exigia muito treino, muito. Às vezes treinava até a exaustão e, algumas vezes, chorava com as dores no corpo. Se em casa não tive os maiores incentivos (futebol não dava dinheiro, naquele tempo) pelo menos a vida me compensou com grandes treinadores que acreditavam no guri mirrado que corria por todos os lados do campo. 

A minha história com o futebol terminou naquele dia em que fiz uma escolha pelos livros, mas a paixão continua ainda hoje. Faz tempo que não “bato uma bolinha”, o corpo não ajuda e a motivação desapareceu. Mas as lembranças continuam como se o tempo não tivesse passado. Ah!... A bola com seus doze gomos (algumas com trinta e dois) parecem tocar os meus pés, acariciar o meu peito e ditar-se no gramado ao meu feitio para colocá-la no gol ou alcance de outro jogador. A bola continua sendo uma paixão de cabeça e de alma. E aquele campo do Lansul se inscreve a cada dia em que sonho com a bola. 

Há pouco um amigo, tão mirrado como eu, daqueles tempos, me confessou – do outro lado do mar – que faz mais de vinte anos que não joga uma bolinha a mais de vinte e cinco anos, mas, vejam só o que ele me diz: “Mas quando uma pelota cai peto de mim quando passo por aí, perece que não faço outra coisa na vida, ela cola no meu pé, no peito, cola na cabeça, fica quietinha, doce e redondinha... Parece que é a única coisa na vida que faço sem fazer esforço”. É meu caro, Claudinho, a vida tem lá as suas compensações e uma paixão, de alguma forma, nunca termina, sempre há de viver em nós nas sensações que trazemos na alma e no corpo. 

Aqui, nos meus sonhos, de vez em quando, a bola rola redondinha e vem aquietar-se na parte externa do meu pé e meu coração a reconhece como aquela que um dia me fez acreditar que mais do que uma esfera ele é um ponto de apoio para os meninos pobres e mirrados das periferias...

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