O FANTASMA DA PERFEIÇÃO.
O Fantasma da Perfeição.
Gilberto B. da Cunha
Psicólogo CRP 07/21 456
Quando cheguei ao final da faculdade e me deparei com o meu trabalho de conclusão o sofrimento chegou junto. Eu tinha uma porção de ideias e um monte de projetos, tudo tinha de ser perfeito... Que tema desenvolver? Que autores pesquisar? Qual foco apresentar? E outro monte de questões que me faziam pensar numa montanha intransponível. E, pior: será que os professores vão gostar?
Foi então que me deparei com a realidade: meu professor tinha desejos sobre o meu trabalho, me apontou pistas e me citou uma literatura razoável para a sua construção. Ficou desapontado quando escutou o meu desejo, as minhas intenções. De qualquer forma, depois de escolhido o tema e a literatura, havia o sentimento de que tudo tinha de ser perfeito. Eu tinha de dar conta do tema, das expectativas do professor e dos meus desejos. E o que era para ser um prazer virou um inferno e o fantasma começou a me perseguir e seu nome era perfeição.
Passou-se mais de sete anos da apresentação do meu último trabalho de conclusão da faculdade. Quase nada saiu como eu queria. Talvez os professores tenham ficado contentes, talvez eu tenha produzido um bom escrito, mas fiquei longe da perfeição. As minhas expectativas ficaram aquém dos meus projetos iniciais e hoje eu guardo em minha prateleira aquele trabalho reduzido como lembrança de algo que eu disse, mas que ficou muito a dizer. Ainda hoje existe um fantasma que me diz: refaça o trabalho, transforme-o num livro seu, sem o desejo do professor, sem a pressão acadêmica.
Controlo o meu fantasma exigente, não quero que ele seja maior do que o prazer de ter concluído a faculdade. A realidade acadêmica é cheia de questões, de perguntas e de possibilidades. Mas, há um enigma a ser respondido e isso é tudo. Um enigma é apenas uma parte que podemos tocar, mas jamais esgotar. E os nossos fantasmas não são maiores do que as nossas pequenas escolhas no mundo da investigação científica. Talvez eu ainda possa rever o meu trabalho de conclusão, mas se isso é acontecer é porque eu quero aprofundar algo que ainda me incomoda, sem me deixar levar pelo fantasma da perfeição... Sem crise!
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