O Dr. Misterioso
Gilberto B. da Cunha
Psicólogo CRP 07/21456
Era uma das ruas mais bonitas do
bairro, muitas árvores e calçadas bem cuidadas. Eu sempre achava que o lugar se
assemelhava a uma paisagem europeia, coisa de filme. Mas, havia uma casa em
estilo espanhol, bem no fundo do pátio. O jardim ocupava toda a parte frontal
do terreno e os arbustos, árvores e folhagens impediam a visão completa da
casa. O pouco que se podia ver era a janela, um pequeno alpendre e a porta da
frente, nada mais.
O portão era de ferro maciço, um
ferro forte e com sinais de ferrugem e tinha fechaduras duplas, como se
houvesse cuidados exagerados com a segurança. Havia também um arco aéreo que
contornava toda a parte do portão e uma planta de verde escuro que cobria toda
a parte frontal do muro. Era a única casa em que a calçada não era bem cuidada.
Havia muitas histórias sobre os
moradores da casa, ele um senhor forte, alto, risonho e, contraditoriamente,
reservado. Ela uma senhora morena, de cabelos bem arrumados e sempre bem
vestida. Eu seguidamente me encontrava com ela no mercado, ela costumava ser
econômica nas compras. Sempre o mesmo leite, o mesmo pão integral e queijos.
Uma vez nos deparamos no caixa, ela fez um aceno de cabeça, sorriu e isso foi tudo.
Quando eu mudei do bairro, eles
continuaram lá! Sobre eles diziam que ele era um conceituado cientista e que
fizera a opção de se esconder do mundo, outros diziam que ele havia sido
expulso do mundo acadêmico, outros falavam que ele tinha sido rejeitado da
família por conta de seu comportamento violento. Muitas outras histórias se
contava sobre ele e muitas versões, das boas e das piores possíveis. O fato é
que aquela casa do Dr. Augusto era misteriosa, tanto quanto os seus moradores.
Soube mais tarde, muitos anos
depois, que ele foi assassinado e que o seu corpo foi encontrado dias depois em
estado de composição, daí para frente tudo o que escrever passará a ser
conjecturas e isso eu não quero escrever. O que ficou na minha memória foi a
imagem daquele homem sorridente e misterioso e daquela mulher que me acenou a
cabeça quando nos encontramos no supermercado. Mas, aquela casa era muito
misteriosa, isso era.
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